Meu primeiro post sobre cinema será sobre um clássico de Alfred Hitchcock, que talvez não tenha o mesmo reconhecimento de outras películas do diretor – como: Psicose, Intriga Internacional ou Janela Indiscreta -, mas é tão genial quanto as supracitadas. Eu falo de Festim Diabólico, filme de 1948.
Festim Diabólico é um filme tecnicamente impressionante. Produzido com o mínimo de cortes possíveis para a época, um a cada 8 minutos (portanto o filme de 80 minutos só possui 10 tomadas), Hitchcock ainda “esconde” muito bem esses cortes com técnicas que se transformaram quase em padrão para fazer com que o filme aparente ser em sua totalidade plano-sequência. Para que essa técnica funcionasse exigiu-se o uso de cenários móveis e a exclusão de cenas externas (excetuando a abertura, que mostra a rua), porém essas exigências aumentaram por demais o custo final e fizeram com que esse tipo de produção não se repetisse, nessas proporções, na carreira de Hitchcock. Um quadro em especial me deixa fascinado. Quando Brendon vai guardar a corda que dá titulo ao filme no original (Rope) na gaveta da cozinha. Ao passar pela porta, esta fica batendo – como as portinholas de um saloon de faroeste americano -, e por um quadro apenas vemos Brendon segurando a corda para deixa-la dentro da gaveta e quando a porta vai bater novamente, essa ação já está encerrada. É a combinação de estética e sincronia, em uma cena que deve ter sido ensaiada a exaustão, que me fascina. CLIQUE AQUI para ser direcionado para o momento exato da cena em questão.
E para não dizer que é um filme meramente para ser admirado sob os aspectos técnicos, ainda apresenta uma história que te exala suspense e até um certo humor negro. Eu explico: Brendon e Phillip são um casal homossexual (na verdade isso não é discutido no filme, até pelo ano de sua produção, mas fica subentendido em diversas oportunidades e inclusive em uma cena cortada que faz parte do trailer original) que resolvem matar um amigo por considerarem-no inferior intelectualmente, e também que eles – os portadores do intelecto superior – teriam o direito de tirar a vida desses seres inferiores. Os conceitos filosóficos abordados, como o do Úbermensch ou super-homem de Nietzsche, são temáticas recorrentes desde esse início. Para comprovar sua superioridade, e quem sabe até testar os limites de sua frieza, eles organizam um jantar em sua casa (local onde aconteceu o assassinato) e os convidados são: a família e a noiva de David (o amigo assassinado), além da emprega doméstica de ambos e um professor que os três tiveram em comum – interpretado com maestria por James Stewart. As teorias dos assassinos são debatidas durante toda a noite, piadas de duplo sentido envolvendo o ocorrido e o fato do jantar é servido sobre uma mesa improvisada no baú onde está o corpo de David, completam o clima. Mórbido não? Mas é justamente aí que reside a pitada de humor negro que noto, pois durante todo o filme o expectador se encontra no papel de cúmplice e é nele (e não nos personagens, que à priori não sabem de nada) que fecha o sentido das situações que acontecem.
Festim Diabólico é um filme que tem um cuidado técnico impressionante, atuações muito boas e uma história de roer as unhas (para quem – como eu - tem o hábito, fica mais fácil ainda). Justifica a fama de mestre do suspense creditada à Hitchcock e é uma excelente pedida para os amantes de cinema, mas também para aqueles que buscam diversão e entretenimento.
Esse texto faz eu me sentir uma pessoa ignorante quando a questão é cinema.
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