quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CLUBE DA LUTA: ENTRE O PATHOS E A RAZÃO

Tive hoje a ideia de falar daquele que é, sem a menor sombra de dúvidas, o melhor filme que já vi em toda minha vida – e sinceramente, desconfio que o será até o termino da mesma. Para os que me conhecem essa introdução já fala tudo: é claro que o eleito é Clube da Luta (Fight Club, EUA, 1999), obra prima dirigida por David Fincher e protagonizada por Brad Pitt e Edward Norton (além da sempre magnífica Helena Bonham Carter) - com roteiro adaptado do livro homônimo de Chuck Palahniuk. Impressionante é que, ao tentar esquematizar mentalmente o conteúdo deste post me dei conta que - como também acontece na fala - talvez eu não seja capaz de transformar em texto (logo, tornar inteligível para o interlocutor) tudo que passa na minha cabeça sobre essa película, mesmo sendo ela minha favorita.


Gosto sempre de começar qualquer linha sobre Clube da Luta esclarecendo: “ESTE NÃO É UM FILME DE PORRADA!”. Posto isto, acho que podemos continuar sem maiores prejuízos ao conteúdo do meu texto ou, principalmente, do filme em si. Podemos sintetizar o enredo do filme como a história de um homem que sofre com insônia e é viciado em grupos de ajuda (de grupos de homens que tiveram câncer nos testículos até o parasitas do cérebro) que desenvolve com uma figura inusitada que conheceu durante um vôo, Tyler Durden, uma estranha relação. Após o incêndio da casa do homem em questão, eles vão morar juntos na casa de Tyler e em meio a discussões e devaneios, Tyler pede para que lhe dê um soco. É o início do que viria a ser o Clube da Luta. Mais e mais homens se juntam ao grupo e esse cresce em proporções absurdas, desenvolvendo-se inclusive em outras cidades, mas o Clube da Luta era apenas o início do que Tyler Durden chama de "Project Mayhem", uma organização anti-materialista e anti-capitalista. Há uma virada no roteiro em seu final que, obviamente, não contarei aqui. E pronto, esse é o filme aos olhos mais desatentos.

Uma das inúmeras releituras feitas a partir do filme
“O que faz esse filme tão incrível?”, já me perguntei diversas vezes. E a resposta, que me satisfaz, é tudo aquilo que está abaixo dessa “primeira camada” que citei. E como essas percepções, e não hesito em dizer que há sempre uma (ou mais) a cada nova vez em que se assiste o filme, me afetam e fazem refletir. Clube da Luta é um convite a repensar nosso modo de vida baseado no consumismo, nosso sistema de produção excludente que marginaliza grande parte da população e “coisifica” o trabalhador, a investida liberal das grandes corporações transnacionais, entre tantos outros tópicos. Não é por acaso que o personagem principal não tem nome, é um ser genérico. Ele representa o cidadão comum diante da sociedade do espetáculo, o homem que “Foi criado pela televisão acreditando que um dia seria um astro do cinema, estrela do rock ou milionário. Mas não será. E está muito, muito, furioso” (como descreve o próprio Tyler Durden), ele é o colapso do sistema. Algumas alusões são mais que óbvias, como a cena que poderia ser nomeada como “Fetiche da Mercadoria” (sim, tal qual o conceito de Karl Marx) onde o narrador se encontra em sua casa comprando pelo telefone e o plano mostra sua casa como um catalogo de compras. Ou a segunda profissão de Tyler, inserir um quadro de pornografia em filmes infantis (referência mais que óbvia à famosa história que dá conta de que existem mensagens subliminares nos filmes Disney ou mesmo inserções de imagens de Coca-Cola ou alguma outra grande corporação do tipo em filmes – primordialmente em cinemas). Mas as mais gratificantes percepções são menos óbvias e dependem de uma imersão ímpar por parte do espectador, o que faz com que sejam – de fato – uma conquista.

Tecnicamente o filme é não menos fantástico. Fincher teve o cuidado visual de produzir um filme carregado, em alguns momentos até feio, mas que não negasse seu discurso em momento algum. Sua violência é estética, sob certo ponto de vista, e dá um tom poético das agressões – algo como é preciso sentir algo para se sentir vivo. O ritmo é dinâmico e já na segunda vez que se assiste o filme (na primeira se você for do tipo “espertinho” ou já começar preparado) é possível perceber as inúmeras dicas do desfecho – que funcionam como piadas internas e fazem com que o filme ganhe muitos pontos no fator replay.

Essa piada funciona muito bem para quem já assistiu o filme!
O texto já começa a se alongar e eu tenho absoluta convicção de que não disse nem metade daquilo que penso e não posso deixar de sentir insatisfeito ao relê-lo. Como já previa em seu início, a incapacidade de traduzir em código linguístico a dimensão de Clube da Luta me assolou e o que me resta é esperar que o que foi dito, seja minimamente satisfatório. Finalizo com as, famosas, 8 regras do Clube da Luta:

1.   Você não comenta sobre o Clube da Luta.
2.   Você não comenta sobre o clube da Luta
3.   Quando alguém gritar "para!", sinalizar ou desmaiar, a luta acaba.
4.   Somente duas pessoas por luta.
5.   Uma luta de cada vez.
6.   Sem camisa, sem sapatos.
7.   As lutas duram o tempo que for necessário.
8.   Se for a sua primeira noite no clube da luta, você tem que lutar!

2 comentários:

  1. "You're not your job. You're not how much money you have in the bank. You're not the car you drive. You're not the contents of your wallet. You're not your fucking khakis. You're the all-singing, all-dancing crap of the world." TD
    Sim, o filme é único, não dá para negar a atuação do cast principal é impecável, e a história é tão envolvente que não tem como se pegar repetindo as regras do clube junto a seus amigos quando estão bêbados.
    Não posso, no entanto, coloca-lo no lugar mais alto do meu panteão cinéfilo, isto é sacanear com minha adolescência "baseada" em Trainspotting e Cova Rasa!
    Mais uma vez, parabéns, tá de parabéns pelo blog e em especial por este post!

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  2. fiz um trabalho na facu com esse filme seu marxista...du caralho o blog...

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