Felipão, mais uma vez, frustrou um povo com uma ausência em sua
lista de convocados. Onze anos depois de 2002, e um ‘não’ a Romário que é
assunto até hoje, parece que este traço marcante da personalidade do treinador foi
simplesmente ignorado. Pensou-se que os tempos eram outros. Não eram. Karl Marx
alertou: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como
farsa”.
Ronaldinho é a farsa da tragédia construída por Big Phill e
sua trupe no início da última década e que culminou no pentacampeonato mundial.
Surpreende, quando não deveria, que o metódico Luís Felipe Scolari tenha
apostado na mesma estratégia para essa nova empreitada no comando da seleção. O
‘não’ a Ronaldinho é o catalisador da união para uma versão 2.0 da “Família
Scolari”. É o problema criado pelo próprio e para o qual ele mesmo se apresenta
como solução, a complicação da narrativa que vai sendo construída.
Por outro lado, não se pode negar que Felipão conseguiu algo
há muito tentado, sem sucesso, por técnicos, dirigentes e atletas: criar um
fato novo que coloque a seleção brasileira em posição no centro das discussões.
Por bem ou por mal, recentemente não houve sucesso (???) ou fracasso - nem
mesmo a pífia eliminação na Copa América - que gerasse tanta comoção no que diz
respeito à desbotada amarelinha. Pelo menos momentaneamente, diminui a
indiferença – que, convenhamos, para qualquer instituição é infinitamente pior
que a “raiva” ou a “indignação”.
O que penso:
Abro esse parêntese no texto para externar minha visão sobre
o ocorrido. Eu, fosse o treinador, não deixaria Ronaldinho, principalmente na
fase em que se encontra, de fora do grupo – mesmo que como opção. Por outro
lado, não acho o maior absurdo da galáxia sua ausência no grupo final da
competição. Como qualquer decisão, tem prós e contras. Tendo a acreditar que o
comandante deve ter ponderado sobre isso – e chegado a uma conclusão diferente
da minha.
E Ronaldinho nisso
tudo:
Ao contrário do que tenho visto, não acho que esse pode ser
o “fim da linha” pro Ronaldinho. É claro que é uma meta pessoal - já externada
pelo próprio atleta - que não foi alcançada, mas não vejo isso afetando o
futebol do R10. E mais, não vejo porque considerar sua não convocação como um
fracasso. O meia saltou de uma condição de “ausência sequer questionada” na
lista para a Copa de 2010, quando tinha 30 anos recém-completos, para o nome
mais cobrado e surpresa nacional três anos depois – tamanha a certeza de que
seu futebol o credenciaria a uma vaga no grupo. Isso não é pouco.
Há uma tendência de se buscar “fechamentos” em nossas narrativas
cotidianas – um exercício quase Scolariano
-, mas nem sempre é assim. Geram desconfianças as histórias meticulosamente
encadeadas e com desfechos quase ficcionais. A mágica da saga do R10 está
justamente no oposto, ela é real. E não terminou. Há um final já desenhado, mas
na farsa do hexa há espaço – reservado ao acaso - para a reviravolta no
terceiro ato, como é típico dos melodramas enraizados na cultura latina.
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