terça-feira, 30 de outubro de 2012

Barcos, a mão e a tecnologia

O lance da discórdia: Barcos põe a bola pra dentro do gol com a mão.

Tenho acompanhando a polêmica em torno do lance entre Palmeiras e Inter e resolvi, agora, opinar. Mas, espero, não com o maniqueísmo que tenho observado na situação.


O que vejo é que há oportunismo da diretoria do Palmeiras, que espera "lavar todos os pecados" cometidos em 2012, por esse episódio. O que não acontecerá. A diretoria é a grande culpada por um ano que teve um título milagroso e foi um fiasco nos demais aspectos. Dito isso, apesar do oportunismo, não dá pra dizer que a indignação e ação é errada, como tem sido comum. Minha ignorância jurídica não me permite dizer se existia algum outro tipo de recurso a ser usado, mas a reclamação feita (e não necessariamente o ressarcimento solicitado) é extremamente válida. O lance em questão é extremamente ilegal, sob todos os aspectos. As regras do futebol - não só não preveem, como - proíbem o uso de mecanismos externos ao espaço de jogo para definição de jogadas. E foi claro que isso aconteceu. Ou seja, um gol irregular foi validado (mas sua validação é aceita pela regra, já que a mesma prescinde em diversos aspectos da arbitrariedade da figura do homem do apito) e foi invalidado ilegalmente logo em seguida. Um erro não corrige o outro. 



O discurso que defende simplesmente passar por cima desse episódio me parece se legitimar no tal do "mal necessário" - "a gente erra aqui, pra dar certo ali na frente". Principio frágil, ilegal e, principalmente, leviano. Antes de passar a carroça na frente dos bois e sair usando recursos que, se acredita, melhorarão a prática esportiva antes que eles sejam legais, se faz necessário discuti-los e pô-los em prática na lei, na regra, do futebol. É um processo lento e moroso, mas que define as coisas de fato. O que não dá é pra ficar abordando um jogo sério e que tem regras, por achismos. 



Um acontecimento semelhante, embora não oficializado, se deu na final da Copa de 2006, na fatídica cabeçada de Zidane em Materazzi - onde muito se disse que o quarto árbitro havia visto o lance no replay e, aí sim, contado ao árbitro da partida, que expulsou o francês. Era um episódio que, por sua ilegalidade (muito pouco debatida até hoje) deveria criar uma jurisprudência no futebol mundial. Uma definição sobre a situação dos lances que, com a situação atual, envolvem o uso da tecnologia e, principalmente, o que seria feito dali pra frente - na busca pela adoção desses recursos ou não. Isso não aconteceu. Tomara que a discussão não permaneça na superfície da questão novamente e se perca outra chance.

3 comentários:

  1. Fato que o gol do Palmeiras foi ilegal. Agora, se for comprovado mesmo a utilização da imagem no jogo (coisa que eu também acho que ocorreu), esse recurso tem que ser padronizado. A lei diz que o árbitro não pode ter acesso a nada, há não ser a ajuda de seus auxiliares dentro das 4 linhas juntamente com a participação do 4° árbitro. Agora fica a questão. A quem dar a razão? Ao Palmeiras que foi "prejudicado" com a anulação do gol irregular? Ou ao Inter que foi "beneficiado" com o recurso de imagem, tal recurso irregular dentro do futebol.

    Ass: Fred Tavares

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  2. Fred,

    Isso é o grande x da questão. E o pior é que se tem apelado pro juízo de valor pra julgar a questão. O grande problema aí é muito menos o Palmeiras. É que esse lance tem potencial pra ser um marco na história do futebol, muda tudo e cria um precedente que definirá a prática desse esporte, pelo menos no profissionalismo, nos próximos anos.

    Se ficar provado (e é importante dizer isso, porque ainda não existe prova) , esse caso ganha uma importância enorme. Dane-se o que vão decidir sobre o resultado do jogo. Se tem gente esquentando a cabeça com essas discussões superficiais, tolos que são. Temos uma discussão importantíssima a ser feita e, novamente, vamos ficar presos à falsos moralismos e debater o sexo dos anjos.

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