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Anderson Silva vai (ou quer) se reerguer? Foto: AP |
O ano de 2013 tem sido difícil para os mitos do esporte contemporâneo. Em um grupo amostral reduzido: o Barcelona sofreu uma derrota acachapante para o Bayern de Munique na semifinal da UEFA Champions League, com placar agregado de 7x0; a seleção da Espanha foi goleada, e dominada, pelo Brasil na final da Copa das Confederações; o tenista Roger Federer vive uma de suas piores temporadas, com somente um título, e caiu de maneira irreconhecível na segunda rodada de Wimbledon - Grand Slam que é, usualmente, seu ponto alto no circuito; e agora Anderson Silva.
Tratando especificamente do caso brasileiro, é possível destacar um fator que transforma, e muito, a relação com figuras dessa ordem. Há no país um primado da objetividade no jornalismo, em detrimento à escola rodrigueana - essencialmente romântica. Não é posta aqui em discussão a opção por esse modelo, como ode a O homem que matou o fascínora ("Se a lenda for melhor que a verdade, imprima-se a lenda!", em transcrição não-literal), mas o impacto que tem no relacionamento com os mitos. Tal contraste pode ser observado no esporte, por exemplo, no tratamento conferido a atletas com dependência alcoólica em épocas distintas.
Eis então, mais do que divagar sobre modelos jornalísticos ou questões existenciais de cunho mítico, o grande projeto que aguarda Anderson Silva nos dias que seguem: o que fazer diante de tão duro golpe? - sem nenhuma menção ao punho esquerdo de Chris Weidman, por favor. A primeira opção é aposentar-se ou lutar sem pensar em novas disputas de cinturão -como o próprio afirmou que faria, ainda no octógono, após a derrota. Em tal cenário, o Spider encerraria uma era e, de maneira justa, passaria a desfrutar de sua glória passada e dos dividendos que a mesma lhe rendeu. A outra alternativa é assumir o dia 6 de julho de 2013 como um percalço em sua trajetória e buscar se recompor, ou construir novos feitos.
Caso escolha o caminho da recuperação, que parece passar claramente por uma revanche imediata contra seu algoz, Anderson pode aprender com os exemplos de dois compatriotas, expoentes do futebol no Brasil. Cada um em seu tempo, Pelé e Ronaldo, mesmo depois de grandes realizações, conseguiram grandes triunfos após fracassos pessoais ou coletivos e atingiram um nível de distinção ainda maior dentro do esporte.
Pelé, que antes de atingir a maioridade já havia conquistado o título e marcado - duas vezes - em uma final de Copa do Mundo, se contundiu na segunda partida da Copa de 62 e também deixou o mundial de 66 por lesão. No Chile, a seleção brasileira ainda levantou a taça Jules Rimet, mas na Inglaterra, quatro anos depois, o vexame brasileiro foi ímpar, com a inédita eliminação na fase de grupos. Faltava ao camisa 10 "uma Copa pra chamar de sua". E ela veio em 1970 no México. Com um grupo que tinha uma das maiores concentrações de craques por m² da história, o tricampeonato foi a principal sinfonia do Rei.
Já Ronaldo tem "volta por cima" como sobrenome. Desde o reconhecimento internacional precoce e o título da Copa de 94 sem ter entrado em campo, a expectativa criada em torno do, então, Ronaldinho provocou uma frustração colossal na França em 1998 - com o fatídico caso da convulsão antes da final contra os donos da casa. Aliado à série de lesões, o episódio tornou ainda mais fantástica a conquista na Coréia do Sul e Japão em 2002 e, principalmente, a atuação do, já na ocasião, "Fenômeno". Isso sem mencionar a passagem pelo Corinthians, em sua volta ao Brasil. Um marco na história do clube paulistano, que acabava de ser promovido à elite do futebol brasileiro após uma traumática queda para a Série B.
Independentemente da decisão tomada por Anderson Silva, a opção será legítima. O lutador foi um dos nomes mais importante, senão o mais importante, no momento de uma virada histórica do MMA - em que se iniciou um ciclo virtuoso que o tornou um dos esportes que mais crescem no planeta. Se o exemplo dos dois maiores artilheiros do Brasil em Copas do Mundo não deve ser decisivo na escolha do Spider, a opinião de um deles pode. Ronaldo e, é claro, os dirigentes do UFC, empresários e patrocinadores do atleta têm muito o que conversar com ele nos próximos meses.
* Este texto é o 'sucessor espiritual' deste AQUI. Confira também!